Agronegócio

Um recomeço após a crise

Galpões que foram utilizados para criação de aves para o abatedouro da Cosulati são aproveitados em nova atividade

Um movimento de retomada e mudança no perfil dos produtores de galináceos em Pelotas. Isto é o que mostram dados da Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No período entre 2016 - ano de suspensão das atividades do abatedouro da Cooperativa Sul-rio-grandense de Lacticínios (Cosulati), em Morro Redondo - e 2017, houve uma queda de cerca de 130 mil galináceos totais, que contabilizam galinhas, galos, frangos, frangas e pintos. A tendência, projetada por órgãos do setor, é que haja novo crescimento neste número em âmbito municipal, estimulado por produtores e agroindústrias do setor de criação de galinhas poedeiras.

A projeção já é verificada nos números do PPM de 2018, quando houve um aumento de aproximadamente 102 mil galinhas no município, passando de 18.714 aves em 2017 para 120 mil em 2018. Márcia Vesolosquzki, extensionista rural da Emater Pelotas, afirma que a variação entre os anos de 2016 e 2018 se deve ao fechamento da Cosulati e ao aumento, nos anos seguintes, no número de produtores de galinha para postura de ovos, que adaptaram, para a nova atividade, galpões que eram utilizados para a criação de aves para a cooperativa.

A posição é seguida também pela veterinária da Inspetoria de Defesa Agropecuária em Pelotas da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR) do Estado, Jaqueline Fabrique. Segundo ela, o surgimento de produtores e agroindústrias na região explica o aumento demonstrado pelas estatísticas do PPM. Neste ano, a estimativa da secretaria é que no período entre janeiro e maio, no qual houve a realização do censo para estatísticas desses animais, o rebanho deste tipo tenha atingido a marca de 190 mil galinhas de postura. A tendência de crescimento, desde 2018, é atribuída também pela intensificação da cobrança aos produtores para que informem o número de galinhas nas propriedades na Declaração Anual de Rebanho Obrigatória, mesmo que sejam baixos.

Essa atitude reflete também nos números divulgados pelo IBGE, pois a SEAPDR é uma das fontes utilizadas pelo Instituto para a elaboração da PPM. Oscar Terra, chefe em exercício da agência Pelotas do IBGE, explica que a pesquisa não é censitária, mas que são utilizados dados de outros órgãos, assim como pesquisas anteriores, para certificação das estatísticas, utilizando métodos para que o critério de comparabilidade, que permite a comparação com pesquisas de produções de outros anos, seja mantido.

Avicultura colonial

O casal Liane Ucker e Éverton Ucker, da Ovos Renascer, agroindústria de entrepostos de ovos, contribui para o aumento no número de galinhas no município. Eles começaram a criação dos animais para postura de ovos após a interrupção dos serviços do abatedouro da Cosulati em Morro Redondo. Com isso, a produção da família, que já chegou a 16 mil frangos por lote, em seis lotes por ano, foi interrompida. "Nós ficamos de mãos atadas, não nos repassaram nada sobre a situação", comenta Liane. Com isso, as dívidas dos investimento feitos pelo casal para a antiga criação foram se acumulando. Assim, a partir do desejo de continuarem morando em Cerrito Alegre aliado à questão financeira na época, houve a decisão pela criação de galinhas para a produção de ovos.

Inicialmente com 200 galinhas e sem regularização, o número de aves da agroindústria subiu para sete mil neste ano, com a produção alcançando 340 dúzias de ovos por dia, já com a regularização junto à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), obtida há um ano. O local foi o primeiro na Metade Sul do Estado a obter a certificação para funcionar sob o sistema de criação de aves soltas para produção de ovos coloniais. Éverton explica que, nesse método, as galinhas são criadas soltas em piquetes, e retornam à noite para o galpão. "Elas ficam à vontade", afirma. A escolha pelo método, conta Liane, foi econômica, pois as adaptações para o funcionamento no sistema não exigiam grandes investimentos. A decisão, no entanto, já tem reflexos no interesse de clientes pelos ovos produzidos no local. "[o método] promove um ganho ao bem-estar animal", afirma.

No local também são feitas a higienização, a classificação e a colocação em embalagens, em uma sala adaptada para as atividades. Em seguida, os proprietários realizam a entrega dos produtos em comércios do município. "Desde mercados no Centro até o Laranjal", conta Éverton.

O próximo passo será a busca pelo registro no Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf), que ampliaria a possibilidade de distribuição dos produtos para outras cidades do Estado. Atualmente a agroindústria é cadastrada no Sistema de Inspeção Municipal (SIM), ligado à SDR, e que é responsável pelo licenciamento, acompanhamento, inspeção e fiscalização de estabelecimentos que produzem ou fabricam produtos de origem animal. O cadastro no sistema, no entanto, autoriza a comercialização dos produtos somente em nível municipal.

SDR confirma crescimento

" Houve um aumento nesse sentido", revela o titular da SDR, Jair Seidel, em relação ao crescimento de agroindústrias para a criação de galinhas para postura de ovos. Ele afirma que sete estabelecimentos estão cadastrados no SIM, com quatro utilizando galpões que antes eram destinados à criação de aves para o abatedouro da Cosulati. A expectativa é que, neste ano, o número de galinhas de postura no município chegue a 250 mil. Para os próximos seis meses, há a previsão que se obtenha um crescimento em mais cem mil.

Outros rebanhos em queda

Os dados da Pesquisa da Pecuária Municipal, divulgados em setembro, mostram queda estimada de 4,94% em 2018 no número de bovinos em Pelotas, em relação ao ano anterior. O rebanho passou de 50.796 em 2017 para 48.284 em 2018. Para Luís Ignácio Jacques, supervisor regional da Emater/RS, a variação é normal, e poderia ser explicada por um aumento no número de exportações para países do Oriente Médio. No mesmo período, também houve diminuição próxima aos 13% no número de equinos, de 17% no número de suínos totais, de 16% em suínos matrizes e de 19% em ovinos. Para estes rebanhos, a tendência de queda também é apresentada em 2016. O número de caprinos permaneceu estável em 446.

OS REBANHOS EM PELOTAS

 

 

 

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